segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Editorial

Caros Colegas,

Já há vários meses que nos tentam convencer que a crise já passou, usando chavões como “os mercados ganharam novamente confiança”, para mostrar que tudo regressou à normalidade. O Governo PS/Sócrates, que como já dissemos, nada tem de novo, é dos mais insistentes nesta mensagem. No entanto, sentimos na pele todos os dias o quão falsas são essas afirmações. E o próprio governo, através do Orçamento de Estado para 2010, foi bastante mais claro do que nos discursos de circunstância quanto ao que tem em mente para o país: fazer com que os trabalhadores paguem os custos da crise capitalista. Já estamos a ver que vão voltar com a ameaça do défice para justificar todos os sacrifícios, que para eles têm de recair sempre sobre os mesmos. A receita apresentada é congelar salários, cortar nas reformas e diminuir o emprego na Função Pública, fazendo com que os trabalhadores do sector privado sejam também atingidos por tabela, cortar nos serviços públicos como saúde e educação e continuar as privatizações (ANA, TAP, REN), oferecendo assim os lucros destas empresas aos “privados” e ainda devolver o BPN após ter utilizado o dinheiro público para cobrir o desfalque provocado pelos banqueiros.

Apesar de não ter maioria absoluta, Sócrates já tem o apoio “viabilizador” do CDS/PP e do PSD, o que não espanta, pois a receita do governo é a política de direita e corrupta que estes também apoiam. Mas, para tentar conter a indignação que estas medidas certamente irão provocar, o governo tem de conseguir desarmar as lutas herdadas do governo anterior e as que surjam entretanto. Aqui, são frequentemente as direcções sindicais quem presta o serviço: o seu funcionamento é na maior parte das vezes completamente distante dos trabalhadores, que não têm acesso a informação e que por isso também não se sindicalizam; as decisões tomadas nas negociações e nas formas de luta a seguir não são discutidas e decididas democraticamente, mas sim são tomadas pelas direcções sem consulta prévia. Isto impede que as manifestações e greves sejam mais participadas, que a pressão sobre o governo ou os patrões sejam maiores e que assim os acordos assinados sejam mais favoráveis aos trabalhadores. Não devemos, no entanto, confundir os sindicatos e as suas direcções. Os sindicatos são ferramentas essenciais para a luta dos trabalhadores de que não podemos prescindir. Para que cumpram a sua função têm no entanto de ser os trabalhadores a sindicalizarem-se e pressionarem a direcção a levar a cabo uma acção democrática e combativa, para que a luta seja vencedora.

Um bom exemplo de que só com uma resposta forte podemos fazer frente aos ataques do governo e dos patrões foi a recente greve dos enfermeiros, de três dias, com adesão próxima dos 100% e uma manifestação de 15 mil pessoas em Lisboa. A nova geração de enfermeiros é também parte da geração precária, com estágios não remunerados, contratos a prazo, muitas vezes através de empresas de trabalho temporário, tendo de acumular 2 ou 3 empregos para sobreviver. Tal como no anterior boletim referimos a luta dos trabalhadores precários dos hipermercados, agora apontamos este exemplo para mostrar que é possível superar o medo, o isolamento ou a divisão entre os colegas para, através da união, conquistar os nossos direitos.

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