sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Editorial

Caros colegas:
Mais uma vez aqui nos apresentamos neste início de ano. Mais um longo ano que será de lutas, de reacções, de continuar a nossa denúncia, de continuar a ser a voz de quem não tem voz. De denunciar o código do trabalho que perpetua a nossa situação de precariedade. De denunciar um governo que está ao lado dos patrões que nos exploram todos os dias. De alertar todos os colegas para os problemas de todos os call-centers da PT em Coimbra e fora de Coimbra. De sensibilizar os colegas também trabalhadores da PT mas que não são precários para que se juntem à nossa luta que é a luta de todos. De pressionar os sindicatos para que continuem a ser a nossa última linha de defesa contra a exploração. Mas sobretudo, e esta é a nossa grande luta, de criar uma grande consciência entre nós, comunicadores, para que tenhamos a noção de que todos juntos teremos a força necessária para mudar as nossas condições de trabalho e a nossa vida. É precisamente deste último ponto que vos queremos falar desta vez. Sempre nos disseram, e dizem quotidianamente, que a luta dos precários é difícil. Que onde quer que estejam, seja nos call- centers, nos hipermercados, no espectáculo, colegas a recibos verdes em empresas públicas ou privadas, dizem-nos sempre que é muito difícil vencer, ou pelo menos obter pequenas vitórias. Pois queremos dizer que isso não é verdade. Que é possível lutar, e que lutando com força, unidos, e com os sindicatos, é possível ganhar! Neste último mês de Dezembro, os nossos colegas precários do sector dos hipermercados, quando ameaçados pelos patrões que lhes seria imposta uma semana de trabalho de 60 horas, resolveram reagir e dizer não. Eles são tão frágeis como nós. Têm, tal como nós, a permanente ameaça de despedimento. Também a eles lhes é dito que desistam, que não vão conseguir, que não é possível ganhar batalhas. Pois eles lutaram! Através dos seus sindicatos convocaram uma greve para o dia 24 de Dezembro, assim, sem medo, para o dia que mais doeria aos patrões. E qual foi o resultado? Ganharam! Dias antes do dia 24 os patrões recuavam e a greve era desconvocada. A batalha estava ganha. Esta vitória dos colegas dos hipermercados é a prova de que é possível vencer. De que é possível dizer não. De que é possível fazer os lobos recuar. Não podemos continuar a ter medo! Não podemos continuar a acreditar quando nos dizem que não é possível, que é demasiado difícil, que não temos capacidade para lutar. Temos sim! E a prova são as vitórias que os outros conseguem, e se os outros conseguem nós também conseguimos. Todos juntos, com os restantes trabalhadores da PT do nosso lado e com os sindicatos à nossa frente iremos vencer esta luta. Basta a primeira vitória. 2010 será o ano dessa primeira vitória.

Ano novo, vida nova...

Ano novo vida nova… de facto pode considerar-se um novo começo de ano com uma “vida nova”, uma vez que a maioria dos antigos funcionários foram despedidos, aliás dispensados, das suas anteriores funções. É-lhes então dada a oportunidade de irem procurar um novo trabalho ou sugerido irem trabalhar para outro departamento da PT (16200, 16206 etc.) sem que lhes seja passada qualquer tipo de recomendação.

Muitos serão os novos funcionários que irão começar a trabalhar, esperançosos de terem arranjado um trabalho digno e merecedor do seu tempo. Falsas promessas e diálogos extremamente convincentes (se te esforçares vais vender!) serão as “entradas típicas” de supervisores e formadores que tentam passar uma imagem irreal e utópica da realidade do centro. Não vão certamente falar das bases de dados totalmente desadequadas – “os idosos são o nosso público-alvo porque por norma não nos contactam, temos que ser nós a ligar-lhes e convencê-los a instalarem internet, televisão etc., os novos vão às lojas ou ligam-nos”. Não vão falar das vendas que serão anuladas por não haver viabilidade técnica ou pelo facto do cliente ter dívidas pendentes com a PT… mas para quê estar a referir isto tudo quando vão poder descobrir por vocês.

Que tipo de trabalho possui apenas funcionários com uns tantos meses de trabalho? Simples, um trabalho precário no qual não se investe na formação dos funcionários nem na sua permanência com a empresa. O tipo de trabalho que recompensa quem tem uma aptidão natural (ou sorte), neste caso para vendas, e quem não tem é apenas uma questão de tempo até ir para a rua, que é como quem diz ser “dispensado”. Não se investe numa correcta formação dos funcionários, sai mais barato recrutar novos que reciclar os mais antigos…

Nós estaremos aqui, sempre, e tal como a PT temos olhos e ouvidos em todo o lado, queremos e exigimos melhores condições de trabalho e mais respeito pelos funcionários porque acima de tudo são pessoas, muitas delas desesperadas por terem cursos universitários e não conseguirem trabalho na área. A PT aproveita-se disso, mas esperamos que o mesmo não o façam supervisores, formadores e chefes de centro… Grandes modificações não precisam somente vir de “cima”.

Entristece-nos ver que muitos supervisores olham para este boletim como se nós fossemos inimigos ou uma novela que serve para ler e passar o tempo! Criticam os nossos erros ortográficos, que reflectem o pouco tempo que temos para rever os textos, sem encontrar nenhuma crítica ao conteúdo, que é o que verdadeiramente importa.

Muito se pode fazer com pouco, havendo coragem e determinação, existem alternativas! No boletim anterior mostrámos isso mesmo, um modelo de incentivo às vendas bastante diferente e melhor que o actual, um modelo que vigora em vários países europeus! A nossa pesquisa, ao contrário do que nos acusam, foi feita com base em dados reais. Tentamos arranjar alternativas para que o nosso boletim não seja feito apenas de críticas ao que funciona mal, mas tenha propostas para resolver os problemas dos trabalhadores, sejam eles comunicadores ou supervisores.

Procuramos com este boletim unir os trabalhadores da PT para juntos conquistarmos melhores condições de trabalho. Estamos abertos às críticas desde que construtivas e contribuam para a solução dos problemas que nos afectam a todos.

Juntem-se a nós!

Outra vez as comissões.

Caros colegas, voltamos a tocar no tema das penalizações, porque estas não caíram no esquecimento das pessoas. Esta injustiça continua, mas tem de acabar!

Somos penalizados se informarmos mal os clientes ou então se denegrirmos a imagem da empresa, mas muitas vezes isto é feito de forma completamente desproporcional e abusiva, tal como quando temos auditorias avaliadas acima de 80%, mas por nos termos esquecido de pedir o contacto alternativo a um dos clientes são-nos retiradas das nossas vendas cinco comissões, o que pode equivaler a cerca de 35 euros a menos no nosso salário. Isto acontece mesmo em vendas que não foram canceladas e que portanto contam para os lucros da PT Comunicações.

Se continuamos a ser explorados como podemos continuar a agir como se nada tivesse acontecido?

Festas, vales de 5 euros. Ainda não repararam que estes prémios são as maneiras mais básicas de nos iludir e de fazer com que a PT comunicações tenha mais lucros?

Esta é uma empresa que teve cerca de 41 milhões de euros de lucros, em média, por cada mês de 2009, explorando-nos com um salário vergonhoso e ainda nos retira o dinheiro das nossas comissões.

E agora vos pergunto, uma empresa que gera tanto lucro necessitaria que pagássemos 5 euros por pessoa no jantar de Natal?

Nós achamos que não. Gostamos do convívio entre os trabalhadores, que é necessário e pode ajudar a aumentar a nossa união, mas não tentem dar uma imagem de conciliação e amizade com a empresa que nos prejudica diariamente.

Não podemos deixar que nos calem enquanto continuarmos a ser prejudicados!

Colegas das vendas, não temos nada a perder, a união faz a força e juntos venceremos!

PT Precariacções nº10