quarta-feira, 18 de março de 2009

Segundo Boletim


PT PrecariAcções Nº 2

Crise? Os ricos que paguem a crise que fizeram!

Todos os dias ouvimos falar em crise. Para nós que aqui trabalhamos, com salários de miséria e condições de trabalho vergonhosas, a crise já a vivemos todos os dias, agora agravada de dia para dia.

Nesta nova vaga de crise, assistimos à nacionalização de instituições financeiras gigantescas em processo de falência pelo mundo fora. Enriquecendo vários anos à custa da exploração da maioria da população e de especulações com dinheiros alheios, os senhores do grande capital afundaram os seus próprios barcos.

Enquanto que para nos pagar melhores salários, para termos melhor Saúde e Educação públicas, para conseguirmos habitação a preço justo, nunca houve dinheiro. quando são os grandes banqueiros e empresários do mundo a pedir “ajuda”, não faltam milhões para continuar a sustentar os seus erros, os seus lucros e os seus luxos!!!

Em Portugal, várias empresas, como por exemplo a PT e GALP, eram públicas e garantiam mais direitos, estabilidade e perspectivas aos seus trabalhadores. Contudo, estas foram privatizadas, com o agravar da exploração e precarização permanente de quem trabalha e o lucro ininterrupto para quem explora. Mas agora que é para os grandes não ficarem “mal”, o estado já pode voltar a intervir. Já vemos com mais clareza qual é a solução do Governo português e de vários outros pelo mundo fora: privatizar os lucros e nacionalizar os prejuízos.

Caros colegas, no final de contas, quem pagou a privatização da PT e quem vai pagar esta crise? Com os “nossos grandes salários” e “as nossas muitas regalias sociais”, nós, os pequeninos, aqueles a quem se pode pedir sempre mais, somos nós que vamos pagar as favas dos erros que há muito tempo têm vindo a ser cometidos pelos grandes deste mundo e os governos que os protegem. Somos nós que já estamos a ser as vítimas do aumento da inflação, somos nós que não vamos ter, mais uma vez, aumentos de salário, somos nós que teremos de trabalhar mais horas quando e como a PT quiser, somos nós que vamos ter de continuar a carregar o fardo de chegar ao fim do mês com nada!

Crise? Os ricos que paguem a crise que fizeram!

Caros colegas, neste segundo número do PT Precariacções queremos começar por agradecer as respostas e ânimo que nos deram todos os que nos escreveram. Muito dissemos no primeiro número, e muito ficou por dizer. O primeiro número foi a primeira pedrada no charco para agitar as águas. É tempo de continuar a denunciar e lutar contra a forma inaceitável como esta empresa trata os seus trabalhadores.

É preciso acabar com a imposição de horários!

Todos sabemos que muitos de nós não têm o horário que queriam. Em particular quem tem que ir para a periferia da cidade, se tivesse um horário a sair quinze minutos antes, muitas vezes já bastaria para poder apanhar um transporte que lhe proporcionasse chegar a casa uma hora mais cedo. De quinze em quinze dias temos que ver se os nossos horários mudaram, sem que as nossas disponibilidades sejam levadas em conta ou que sejamos ouvidos na elaboração da nova escala. Esta postura autista afecta directamente a qualidade do nosso trabalho e a organização da nossa vida fora da sala de atendimento, ao colocar-nos a pressão de ter de repensar a vida de 15 em 15 dias.

Uma boa solução para isto era simplesmente ouvir os comunicadores e em função das disponibilidades de cada um, fazer as escalas de serviço. Fazendo isto, chegar-se-ia à conclusão de que normalmente há pessoas dispostas a trabalhar em todos os horários, satisfazendo as necessidades do centro. Assim, poupavam-se muitas idas ao gabinete do chefe para tentar mudar horários, muitas dores de cabeça devido à insegurança de mudanças quinzenais e não haveria a necessidade de ter sacrificar pessoas com horários ainda mais penalizadores para a sua vida pessoal.

Longa se torna a espera para ir ao intervalo...

Como já dissemos no número anterior, os nossos intervalos são demasiado curtos e que temos que esperar demasiado tempo para os podermos ter. Consideramos inaceitável ter de esperar muitas vezes entre 20 minutos até a 1h para podermos ter intervalo. Chega a dar-se a situação de colegas que acabam até por não ir ao intervalo, porque o seu horário terminou antes que os deixassem ir. Entendemos que nenhuma fila de espera justifica esta situação. É desumano que tal aconteça.

Por isso é preciso aumentar o nosso tempo de intervalo e devolver aos comunicadores a liberdade de irem ao intervalo, quando quiserem. Este sistema já vigorou e sempre funcionou bem. O sistema actual é apenas mais uma medida de controlo e uma forma de nos roubar tempo de intervalo ao qual temos direito.

Queremos head-sets novos!

Desde há dois anos para cá, foram-nos retirados os head-sets que cada um tinha e foi distribuído um head-set por posição, dando ao comunicador apenas as orelhas e o bocal. Esta decisão foi tomada quando a responsabilidade pelos equipamentos passou da PT Comunicações para a PT Contact, tendo subjacente uma lógica exclusivamente economicista de poupança a curto prazo. No entretanto, devido ao uso, por várias pessoas diferentes, num dia dos mesmos equipamentos e sem que estes equipamentos sejam renovados ou tenham qualquer tipo de manutenção, o estado de degradação a que chegaram tornou-os quase inutilizáveis, prejudicando o atendimento individual do comunicador e com ele a qualidade do serviço. No imediato é preciso renovar os head-sets e voltar a colocar a possibilidade de cada comunicador ter o seu próprio equipamento, o que achamos que a longo prazo seria uma medida que permitiria garantir melhores condições de trabalho.

Feriados e folgas de compensação: o direito à escolha!

Hoje em dia, quando trabalhamos aos feriados a única possibilidade de retribuição pelo trabalho realizado nesse dia é a marcação de um dia de folga de compensação. Além de termos de trabalhar no feriado, somos ainda obrigados a gozar o dia de folga correspondente, não quando precisamos dela, mas quando o serviço entende adequado marcá-la. Por isso queremos ter direito ao que é justo e legal, ou seja, pudermos escolher (tal como já aconteceu) entre receber o salário do dia a duplicar ou escolher um dia a gozar quando nos fosse conveniente. Não é pedir muito, é apenas fazer cumprir o nos é devido!

Aqui como noutras questões dentro do “nosso” centro, verificamos que as condições de trabalho têm estado constantemente a piorar ano após ano! Não queremos ser mais pisados, queremos fazer valer os nossos direitos!


Primeiro Boletim

PT PrecariAcções

É preciso entrar em Acção

Nos dias que correm os ataques às condições de vida e de trabalho são cada vez maiores. Com os preços a subir consecutivamente e com o valor dos nossos salários a baixar, dia a dia é mais difícil chegar ao final do mês. A crise económica bate à porta de todos os que aqui trabalhamos e o Governo, com as suas políticas na área do trabalho com o novo código recentemente aprovado, da saúde e da educação, agrava a situação, pondo-nos a pagar, para que outros possam enriquecer.

Fora da sala de atendimento, cada vez mais sectores profissionais saem à rua para reivindicar os direitos que são seus. Neste contexto parece-nos necessário começar a pôr o dedo na ferida dos problemas que aqui vivemos todos os dias e a construir elementos de união entre todos nós, para que possamos ter força para dizer BASTA!

Todos sabemos que no dia a dia deparamo-nos com vários problemas que é urgente denunciar.

Contratos e Empresas de Trabalho Temporário

Talvez devêssemos começar pelo princípio: os nossos contratos de trabalho. Diariamente somos a cara da PT Comunicações e é-nos exigido que a representemos da melhor maneira possível. Contudo, entre nós e a empresa existem vários vampiros que nos vão sugando grande parte daquilo a que temos direito: as Empresas de Trabalho Temporário. Elas têm nome: a Randstad, a Select, Flexilabour e Atlanco. Estas empresas alugam-nos à PT para fazermos o seu trabalho, dando-nos uma garantia “mensalmente renovável” de trabalho, quando temos que mensalmente garantir compromissos que não são temporários (casa, educação, comida, filhos, etc.). Além disso, o aluguer do nosso trabalho «temporário», mantém-se muitas vezes por anos a fio. Mantendo-nos trabalhadores descartáveis a PT não tem de assumir responsabilidades perante nós enquanto seus trabalhadores, ao mesmo tempo que nos pretende silenciar com a ameaça mensalmente constante da não renovação do contrato.

Salários

Também os salários (miseráveis, diríamos nós) são outra questão que não podemos deixar de falar. Em primeiro lugar, a PT paga às Empresas de Trabalho Temporário até cinco vezes mais pelo trabalho de cada um de nós, do que aquilo que nos pagam a nós. Não, não estás a ler mal!

Por outro lado, mesmo entre os contratados pelas ETT’s, os valores salariais contratualizados são mais baixos cada vez que existem novos contratos e novos comunicadores, dentro do mesmo serviço.

Na verdade, a PT é uma empresa onde os comunicadores já ganharam bem pelo trabalho realizado. Ao mesmo tempo, hoje a PT continua a ser uma das empresas com maiores lucros no país, e apesar dos ritmos de trabalho e da produtividade dos comunicadores ter aumentado, só os salários é que são sempre a descer. Exemplo disto é que as pessoas que antigamente tinham contrato com a PT ganhavam significativamente mais do que nós, na ordem do que hoje seriam 1000 euros fazendo, por exemplo, seis horas diárias em trabalho nocturno. Para dar mais um exemplo, um comunicador do Serviço Informativo rende à empresa por dia, aquilo que ganha num mês. A única conclusão que daqui podemos tirar é que tanto a PT como as ETT’s estão a enriquecer à nossa custa.

Condições de Trabalho e o dia-a-dia nas salas de atendimento

Na sala de atendimento, valerá a pena começar pelos intervalos. Em primeiro lugar, o pouco tempo que temos para intervalo: 3 minutos por hora, o que dá um total de 12 minutos para 4h, de 18 minutos para 6h e de 24 minutos para 8h de trabalho. Tendo em conta o desgaste psicológico das tarefas exercidas e a estrutura do edifício, o intervalo é pequeno não só para desanuviar a cabeça, como nos obriga comer ou ir à casa de banho em tempo record. Além disso, em serviços como o informativo, a determinadas horas do dia, o tempo de espera para ir a intervalo chega a atingir os 40/50 minutos, o que deixa qualquer um desesperado, prejudicando a saúde de cada um e a qualidade do próprio atendimento ao cliente.

Já a avaliação e a produtividade são outros dos fantasmas que nos perseguem diariamente. No caso do informativo são as chamadas de prova que todos os dias estão à espreita do menor deslize do comunicador, colocando sobre os seus ombros uma pressão desnecessária, além de ser de realçar que estas tem um peso excessivo na avaliação mensal.

Finalmente, uma questão de forma, mas que diz muito do ambiente dentro da sala de atendimento: a inflexibilidade das chefias perante os nossos erros (atrasos, chamadas de prova, reclamações, incumprimentos de intervalos, marcação de férias, etc.) e constante flexibilidade e tolerância pedidas aos trabalhadores para com as necessidades e falhas da chefias e da empresa. Um bom exemplo disto é a dificuldade em marcar férias ou dias de compensação de feriados, quando sempre que o serviço pede, o comunicador é obrigado a trabalhar mais horas ou a trabalhar em dias de folga. O mesmo se pode dizer da inflexibilidade com atrasos pontuais de poucos minutos, enquanto que quando é preciso ficar mais alguns minutos porque nos caiu uma chamada antes de sairmos e esta se prolonga ou por motivos de formação, esses minutos não nos são normalmente contabilizados.

Para finalizar, queremos denunciar isto: recentemente a nossa entidade empregadora emprestada, a PT Comunicações, querendo mascarar-se como paladina da criacção de emprego, anunciou a criacção de 1200 novos postos de trabalho em Santo Tirso e 400 novos postos de trabalho em Coimbra em dois novos call centers. Claro que tudo isto é falso. Os call centers vão ser criados, de facto, mas quer um quer outro não criam novos empregos, mas surgem de um processo recorrente dentro da empresa de deslocalizar postos de trabalho para zonas periféricas do pais onde pode receber subsídios das câmaras municipais e com isso criar call centers a custo zero, exemplos disto são Bragança e Castelo Branco. O caso de Santo Tirso resulta de centros fechados em Lisboa, Coimbra irá resultar da junção dos dois centros existentes. Resumindo, andamos todos a ser enganados com a PT a ter uma bela imagem de criadora de empregos, só não diz é que são empregos precários.

Haveria muito mais coisas para falar. Este é apenas o início de um longo caminho que há percorrer, mas achamos que é com este primeiro passo que poderemos encontrar soluções para um futuro melhor.

Nós queremos ser a voz silenciosa de quem não pode falar cá dentro. Se te revês naquilo que aqui escrevemos ou se achas que há outras questões que é preciso falar: escreve-nos para o email ptprecariaccoes@gmail.com. Achamos que nenhuma solução cairá do céu, por isso os precários precisam de entrar em acção!